quarta-feira, 26 de dezembro de 2012


Eu estava morrendo. Era a única coisa certa em minha vida naquela época. Fiz muitas coisas durante meus longos anos de vida, coisas boas e coisas ruins, me dei ao luxo de ser egoísta e às vezes só conseguia pensar no bem dos outros. Mais uma coisa era certa, eu ainda não estava pronto para morrer.
Nasci em um mundo diferente dos humanos, nasci no céu, Sim, eu era um alado. Talvez você nos conheça por outro nome, talvez nós somos o que vocês chamam de anjos, apesar de não acreditar nossa, vivi muitos anos como humano e aprendia ter fé em algo maior ao longo da vida, a acreditar em que algum lugar exista alguém acima de todos nós.
Nasci imortal e hoje sei que ate os "anjos" podem morrer. A minha historia começa como todas as outras, com um ser vindo ao mundo, mais ao contrario de vocês humanos nós nos lembramos de tudo, da mesma forma que eu me lembro das coisas que fiz hoje me lembro do dia em que nasci, me lembro de como o sol brilhava naquele dia, e de corro a terra parecia linda de cima, me lembro de ver o humano a qual eu estava predestinado a cuidar.
Ele estava ali com a gente, como todos os humanos antes de nascer, mais não sei por que ficou entre nós mais tempo que do que deveria, não sei para onde vão os humanos depois que eles morrem, mais sei onde eles ficam antes de nascer. E aquele humano compartilhou toda a minha vida, me lembro das conversas que a gente tinha enquanto olhava de cima as cidades movimentadas, era estranho observar como a vida dos humanos era diferente da nossa, eu vivia para cuidar e zelar de alguém, toda a minha existência era destinada aquilo, guiar um homem para o caminho certo e cuidar para que ele cumprisse o seu destino ate o dia da sua morte, quando finalmente eu seria considerado um adulto entre meu povo. Não fui criado para amar, ter medo, sonhar com o futuro nem nada disso, isso são sentimentos de vocês, mais na verdade aquele rapaz mudou tudo. Ele nasceu como todos os outros, e quando ele partiu do meu mundo começou o meu trabalho, eu estava presente quando ele deu o primeiro choro no mundo dos homens, eu me lembro como se fosse hoje como eu sorri ao ver seu rosto vermelho de sangue preso em uma careta de choro, sua voz penetrou em minha cabeça me fazendo fazer uma careta, belos pares de pulmão ele tinha. Lembro que senti um vazio ao voltar para casa e não te-lo para conversar, naquele dia descobri uma coisa sobre mim mesmo que não estava certa. Eu estava apaixonado, é isso era completamente inaceitável, deveria ter alguma punição para esse tipo de sentimento entre os meus, mais eu não sabia o que fazer, não podia me abrir com ninguém e não poderia sentir aquilo, tentei por quase um ano fugir daquele sentimento, é ate deixei de lado a minha criança humana, eu não poderia vai se quisesse esquecer que aquilo sumisse, mais conforme os dias iam passando eu percebi que estava cada vez mais infeliz, ate que não suportei e cometi o primeiro crime contra o meu povo.
Em um dia frio caminhei ate o lugar onde as crianças humanas viajavam para a terra, era um lugar lindo. Bem em cima do oceano, as crianças apenas pulavam da plataforma no meio do céu e nesse momento eram levados para seus corpos pequenos e frágeis em algum lugar da terra. Aproximei-me daquele lugar e avistei um homem que estava perto de se jogar, eu o matei, matei sua alma bem ali, sem nenhum remorso. O matei e me joguei em direção ao nada em seu lugar, senti medo pela primeira vez na vida naquele estante, minhas assas teimavam em tentar bater. Eu já tinha me jogado em direção a terra milhares de vezes, mais aquela queda era diferente, eu não caia em direção ao chão, eu caia de um lugar escuro e quente, era molhado e eu começa a escutar vozes, quando dei por mim uma luz forte e branca me segou, eu escutei um homem dizer. “É um garotão bem grande..” Então sua voz ficou abafada e eu comecei a escutar uma grande movimentação.. Conseguia sentir mãos em volta de mim, mãos emborrachadas, ouvia vozes mais não conseguia distinguir o que diziam ate que uma se destacou.
-Ele não esta respirando. –
Não sei o que fez aquela voz se destacar das outras, mais sei que um grande instinto de sobrevivência se apoçou de mim naquele momento, eu não fiz o que tinha feito para simplesmente morrer ao nascer. Lutei com todas as minhas forças para viver e alguns segundos depois consegui sugar uma grande quantidade de ar, foi quando abri a boca e com grande surpresa percebi que estava chorando a plenos pulmões. Escutei varias pessoas rindo e então a vida passou em um borrão. Nada vez sentido em minha adolescência e infância, e foi no começo da minha vida adulta que tudo começou a se encaixar, as memórias do tempo em que eu voava pelo céu tomaram minha mente. Então pela primeira vez desde aquele dia eu percebi que eu não era apenas um humano. Eu tinha 20 anos quando percebi que meu destino era encontrar aquela rapaz que há 21 anos atrás tinha conhecido e me apaixonado. Então foi assim que começou minha jornada, e mal sabia eu que ele me encontraria e não o contrario. Ele me encontrou, ele falou comigo, ele se interessou por mim, ele se apaixonou por mim, e eu não posso colocar em palavras o quanto fiquei feliz ao ver o rosto adulto que eu tanto conhecia, aqueles olhos negros e intensos, aquele rosto fechado que faz o mundo pensar em que ele simplesmente odeia o mundo, mais eu o conhecia. Eu sabia que aquela cara ruim era uma armadura, e eu o amava por saber se esconder tão bem, e o amei ainda mais por me encontrar.